arteiras da santa cruz

5 de setembro, 2019

Projeto na comunidade Santa Cruz muda vida de mulheres por meio da arte

Um grupo de mulheres da comunidade Santa Cruz, em São José dos Campos, encontrou na arte uma forma de lidar com sentimentos e expressar a criatividade. Há dois anos, elas se reúnem semanalmente para trabalhar peças de arte têxtil e argila.

Elas fazem parte do projeto “Arteiras da Santa Cruz”, criado pela artista plástica e arquiteta Cristina Demétrio. Juntas, imprimem sua personalidade tanto em peças com temas religiosos quanto em outras que retratam um pouco do cotidiano da comunidade.

A empreitada teve início quando Cristina procurou a comunidade para se oferecer a ensinar técnicas artísticas com tecido. Ao mesmo tempo, a moradora Fátima Aparecida de Siqueira estava buscando alguém para ensinar o ofício, principalmente às mulheres da vizinhança. Aí, foi como juntar a fome com a vontade de comer.

“Nós estávamos conversando para tentar trazer para a comunidade algumas oficinas que envolvessem criatividade. Porque as pessoas aqui da Santa Cruz têm muito o que dizer, mas faltava mesmo esse empurrãozinho. E foi nesse momento que a Cristina apareceu”, afirma Fátima.

À época, Cristina mantinha uma galeria no Colinas Shopping. E o local foi palco para a primeira exposição das Arteiras da Santa Cruz. As obras fizeram tanto sucesso com o público que, a partir daí, passaram a surgir convites para novas mostras e encomendas de peças

“Fiquei muito surpresa com a rapidez com que elas aprenderam e com a qualidade do trabalho apresentado. Elas trazem uma expressão única para as obras, que é fruto da ancestralidade. O fazer artístico foi mostrando para elas que muito daquele conhecimento que vinha de suas mães e avós – no bordado ou costura, por exemplo – tem seu valor histórico e artístico”, diz Cristina.

Sessão de terapia

Os encontros para produção e aprendizado de novas técnicas aos poucos foram se apresentando também como ótimas oportunidades para estreitar os laços entre as participantes. Entre as pinceladas e os pontos com a agulha, as moradoras dividem os problemas cotidianos e trocam conselhos entre si.

“Quando estamos juntas, aquele problema que parecia não ter solução começa a ficar mais leve. O trabalho com a arte deixa a cabeça arejada. A gente sai daqui realizada, tanto por ter evoluído no trabalho quanto pela ‘sessão de terapia’ que acontece quando a gente está junta”, explica Valdirene Aparecida Santos, uma das arteiras do grupo.

Atualmente, o projeto conta com uma barraca na Feira Mãos e Arte, que acontece todo domingo no Parque Vicentina Aranha, na região central de São José dos Campos. Durante a feirinha, a atração do espaço das arteiras é a pequena Cassiany Mary de Oliveira, de 9 anos. Desenvolta, a artista-mirim fica responsável por atender os interessados, apresentar os trabalhos e o projeto realizado na comunidade.

Cassiany Mary de Oliveira

Cassiany Mary de Oliveira, a artista de 9 anos que é uma das mais requisitadas pelo público na na Feira Mãos e Arte, que acontece todo domingo no Parque Vicentina Aranha, na região central de São José dos Campos

A mascote é filha da arteira Magali Oliveira Machado, que integra o projeto desde o início. Há tempos ela vinha observando de perto o trabalho da mãe durante os encontros do projeto. Na primeira oportunidade que teve, a pequena surpreendeu com um talento nato para as esculturas em argila.

“Deixei que ela brincasse e aí ela me entregou um trabalho já muito avançado. Todo mundo adorou e agora ela também frequenta nossos encontros”, afirma a mãe, que antes das aulas já trabalhava com artesanato. “Com as aulas, a gente aprende também que aquilo que já fazíamos como artesanato é uma base para começarmos a fazer arte”, comenta Magali.

Para a idealizadora do projeto, apesar dos avanços na área artística, uma das maiores transformações promovidas pelo “Arteiras da Santa Cruz” tem sido derrubar o preconceito que as pessoas que moram na comunidade ainda sofrem.

“É emocionante saber que o que estamos fazendo ajuda a criar pontes entre as pessoas daqui e as de outras regiões da cidade. A arte é um caminho para derrubar preconceitos e promover diálogo entre as pessoas”, afirma Cristina.