Carlos Otávio Araújo

31 de agosto, 2019

Aves promovem show de cores e exuberância na Mata Atlântica

As árvores espalhadas pela Mata Atlântica são o cenário ideal para centenas de espécies diferentes de aves promoverem, todos os dias, um show exuberante de cores e coreografias. Mesmo sendo a floresta mais devastada do país, o bioma é o mais rico em variedade de aves do Brasil.

São 891 espécies registradas. O número equivale a pouco mais de 45% do total da variedade de aves no país. Com tanta fartura, a caminhada pela mata, que se estende – embora em fragmentos – por quase toda a costa brasileira, é um convite a voltar os olhos para cima.

Um dos espectadores mais assíduos desse espetáculo promovido pelas aves da Mata Atlântica é o biólogo Carlos Otávio Araújo, de Rio Claro (SP). A fascinação é tanta que ele ganha a vida observando e estudando o comportamento de espécies específicas. Uma profissão que tem nome difícil: ornitólogo.

Desde os 11 anos, Araújo cultiva o hábito de observar essas aves. De lá pra cá, ele já viu de tudo pelos diferentes cantos da floresta. O encantamento passa por descobrir as particularidades desses seres de bicos, penas e muitas histórias para contar.

Tangará

O Tangará, espécie que promove uma dança em grupo à lá street dance na floresta. Foto: Carlos Otávio Araújo

“Um bichinho muito legal, por exemplo, é o Tangará. A ave é linda e super colorida. Durante a época de acasalamento, eles promovem uma dança completamente inusitada, em que o grupo, comandado pelo macho alfa, fica pulando um em cima do outro. Tudo para agradar a fêmea”, conta Araújo. 

A apresentação dessa espécie, como um grupo de street dance do reino animal, já foi conferida de perto algumas vezes pelo biólogo. Ele conta com seu inseparável binóculo para flagrar também outras extravagâncias das aves da mata. Como o caso das Saíras, que, de tão brilhantes, parecem até luzes de Natal.

“São aves lindíssimas, multicoloridas. Elas parecem que têm um brilho próprio de tão chamativas que são as cores. Costumam habitar o topo das árvores. Outro comportamento interessante desses animais é o fato deles se agruparem também com outras espécies, formando bandos enormes que se comunicam e se ajudam para avisar sobre os perigos de algum predador a caminho”, afirma Araújo.

Saíra Sete-Cores

A Saíra Sete-Cores, uma das aves mais comuns nas matas do sudeste brasileiro. Foto: Carlos Otávio Araújo

Rei dos disfarces

Se as Saíras costumam formar bandos com outras aves para fugir dos predadores, o Urutau prefere apostar em suas táticas de disfarce para conseguir sossego. Afinal, nem os olhos turbinados de gaviões e outras ameaças são capazes de encontrar essas aves em seu habitat natural.

“O disfarce é praticamente perfeito. Eles ficam em cima dos troncos e aproveitam sua penugem para passar despercebido. A tática é elaborada: eles simulam um tronco de árvore, ficando paradinhos em seus lugares”, com o biólogo.

Urutau

O Urutau, que consegue se esconder dos olhos turbinados dos gaviões. Foto: Carlos Otávio Araújo

Agora, o que torna essa ave ainda mais especial é a capacidade de, literalmente, enxergar de olhos fechados. Para que seu disfarce não seja descoberto, ela nem se atreve a abrir os grandes olhos amarelos. E nem precisa, pois suas pálpebras possuem uma fenda, de onde ela espia todo o movimento ao redor.

Os olhos redondos e brilhantes como lua cheia fazem com que o Urutau seja o protagonista de uma antiga lenda, que afirma que as aves, que têm hábitos noturnos, são a mãe da lua.

“Eu acho muito importante que a gente divulgue essas curiosidades sobre a Mata Atlântica. É um bioma riquíssimo em fauna e flora e que está muito próxima da gente aqui no estado de São Paulo. E quando a gente conhece essa natureza, entende a importância de manter tudo isso preservado”, conclui Araújo.