21 de julho, 2020
Depressão e ansiedade: grupos de terapeutas oferecem atendimento gratuito durante a quarentena
Há mais de quatro meses de quarentena, o país enfrenta surtos silenciosos, que crescem no rastro da pandemia de coronavírus: a depressão e a ansiedade. Com medo de sair de casa e afastadas de família e amigos, cada vez mais pessoas vêm desenvolvendo esses quadros.
Um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) mostra que durante a pandemia o percentual de pessoas com depressão saltou de 4,2% para 8%. Já os quadros de ansiedade, subiram de 8,7% para 14,9%.
Nesse cenário, muitas pessoas estão encontrando conforto no trabalho voluntário de terapeutas que dedicam horas de seu dia para o exercício da escuta. Os profissionais oferecem sessões gratuitas via videoconferência, e a demanda não para de crescer.
Uma dessas profissionais é a psicanalista e doutora em psicologia clínica Márcia Campos de Oliveira, de São Paulo. O grupo de voluntários do qual ela participa já atendeu mais de 300 pessoas desde o início do período de quarentena.
De acordo com ela, as queixas são diversas. Principalmente aquelas referentes ao próprio corpo, à mudança de rotina e a questões mentais – como irritabilidade, desânimo, cansaço mental e pensamentos negativos.
“As pessoas nos relatam choro sem motivo, perda ou aumento do apetite, insônia e luto familiar, entre outras questões. Mas a própria experiência da pandemia é vivida de modo bastante singular. Há quem, embora sofra, percebe que essa experiência é passageira. Já outros precisam de alguma ajuda para enfrentar emocionalmente o período. Fazendo um paralelo com a Covid-19: há quem apresente sintomas e quem seja assintomático”, afirma.
Outro paralelo com a pandemia de coronavírus é que não existe um perfil específico de pacientes. Assim como o vírus, os sintomas de ansiedade e depressão não escolhem cor ou classe social. O site de aconselhamento online “A Chave da Questão”, por exemplo, chegou a bater a casa de um milhão de acessos em 72 horas.
A experiência ao tratar a depressão e a ansiedade
Assim como médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde estão na linha de frente para tratar os infectados, os terapeutas envolvidos nas consultas voluntárias enfrentam as consequências da pandemia para a saúde mental. De acordo com Márcia, a experiência tem sido única.
“Para mim, ser psicanalista voluntária durante a pandemia é poder cuidar de um trauma coletivo. É poder enfrentar com palavras o mal invisível. É cuidar uns dos outros. É ter clareza daquilo que perdemos na pandemia e renovar a esperança de que isso vai passar e de que seguiremos em frente”, afirma.
Ainda segundo a psicanalista, uma das principais lições deste período tem sido convocar as pessoas a refletir sobre sua realidade e as prioridades da vida. “A pandemia traz à tona o risco de morte iminente. Desse modo, com a morte tão perto, somos convocados a pensar na vida!”, diz.
Procure ajuda
Ninguém está imune aos efeitos na saúde mental desses tempos de pandemia. Por isso, separamos alguns perfis de projetos que podem ajudar as pessoas a passarem por essa fase de incertezas e dificuldades.
- @plenopsique: Oferece plantões de psicólogos voluntários para prestar orientações psicológicas ou responder perguntas sobre saúde emocional. Basta pedir para ser adicionado no grupo de Whatsapp mantido pelos voluntários;
- @psicologiadeapoio: Grupo de atendimento gratuito criado pela psicóloga Sandra Langhella. Os atendimentos são feitos por meio de um chat online;
- @gruporedescobrir: Oferece atendimento gratuito, individual ou em grupo desde o início da quarentena;
- Dr. Psico (@drpsi.co): Plataforma já oferecia atendimento online a preços populares. Após o início da pandemia, passou a atender de forma gratuita;
- Projeto “Você Não Está Sozinho”: A iniciativa conta com a atuação de mais de 20 psicólogos e oferece consultas gratuitas. Basta se cadastrar no site www.atendemais.com.br e fazer seu agendamento online