5 de setembro, 2020
Independência do Brasil: 7 curiosidades do grito mais famoso da República
Ao celebrar a Independência do Brasil, neste 7 de setembro, o imaginário popular logo busca as referências do quadro “O Grito do Ipiranga” – também conhecido como “Independência ou Morte” –, de Pedro Américo. A história do país está ali: montado em um cavalo e rodeado por soldados fardados, D. Pedro I ergue sua espada e grita, às margens do Ipiranga: “Independência ou morte”, oficializando a separação do Brasil do domínio de Portugal.
Só que a história real não é igual à retratada na imagem.
Os bastidores da Independência do Brasil, ao contrário, registram momentos sem a gala e a pompa eternizadas por Américo, na tela que hoje está instalada no Museu do Ipiranga, em São Paulo.
Um dos primeiros fatos diz respeito aos cavalos. D. Pedro e sua caravana viajavam, à época, em burros. E o motivo que o levou a parar às margens do Ipiranga no dia 7 de setembro de 1822 foi muito mais fisiológico do que ideológico.
Independência do Brasil: 7 fatos curiosos
Hoje, separamos algumas das curiosidades sobre a Independência do Brasil:
1 – A Independência do Brasil foi assinada pela mulher de D. Pedro I
Em 13 de agosto de 1822, D. Pedro I nomeou sua esposa, Leopoldina da Áustria, como Chefe de Estado e Princesa Regente interina do Brasil. A nomeação foi feita porque ele precisava partir em viagem à província de São Paulo. O príncipe permaneceria em São Paulo até 5 de setembro. Nesse ínterim, o clima nas Cortes, em Lisboa, estava bastante tenso, sobretudo após D. Pedro I ter se recusado a voltar para o país natal. Ao receber um ultimato, Leopoldina, na condição de chefe, convocou o Conselho de Estado no Rio de Janeiro e assinou, em 2 de setembro, um decreto declarando o Brasil oficialmente separado de Portugal.
2 – Os distúrbios intestinais de D. Pedro I no dia 7 de setembro
Ao partir de volta ao Rio de Janeiro com sua comitiva, o príncipe regente passou a sofrer recorrentes crises de disenteria, que são narradas pelo historiador Otávio Tarquínio de Sousa:
“A mudança de alimentação, um gole de água menos pura, fosse o que fosse, a verdade é que suas funções intestinais acusavam distúrbios impertinentes, que o obrigavam a alterar o ritmo da marcha, a separar-se da comitiva, em paradas incoercíveis. Um dos companheiros de viagem, o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, em depoimento prestado recorreu a curioso eufemismo para disfarçar o caráter rudemente prosaico do incômodo de D. Pedro. Aludindo à disenteria que afetara o príncipe, informa que isso forçava a apear-se da montaria a todo o momento “para prover-se”. [1]
Foi nesse mesmo dia, em meio a essas crises, que D. Pedro I recebeu a notícia da ruptura e proclamou o famoso “Independência ou Morte!”.
3 – Independência ou Morte: será?
Não há evidências de que D. Pedro tenha erguido a espada ou proclamado “Independência ou Morte”. A expressão se tornou conhecida quando a Romênia se separou da Hungria, em 1876, e está registrada no hino da Romênia.
4 – A pintura de Pedro Américo
O famoso quadro “Independência ou Morte” foi pintado na Itália, a partir de um pedido do Império, e entregue em 1888, ou seja, 66 anos depois da proclamação. Em 1822, o pintor nem era nascido. No quadro, também, D. Pedro aparece cercado por uma Guarda Imperial, que não existia à época. Além disso, o fardamento dos soldados é incompatível com a roupa usada na época para longas viagens.
5 – Independência, sim, mas com multa
Para reconhecer a separação, Portugal exigiu o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas. Em 1822, porém, os cofres brasileiros estavam vazios desde a volta do rei a Lisboa. A solução? D. Pedro pediu ajuda à Inglaterra, que exigiu um tratado comercial para emprestar o dinheiro. Resultado: o começo da dívida externa brasileira. Com o pagamento da indenização, Portugal reconheceu o Brasil como país soberano em 29 de agosto de 1825.
6 – Movimento pela separação
D. Pedro I não foi o único responsável pela Independência do Brasil. A emancipação foi resultado de uma sucessão de eventos sociais, políticos e econômicos, além de grande participação de uma camada intelectual ligada à elite agrária.
7 – Onde está D. Pedro?
Os restos mortais de D. Pedro, morto em Portugal em 1834, estão sepultados na cripta do Monumento da Independência, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, mas o coração ficou na cidade do Porto, na Igreja da Lapa. Em 2012, o corpo do imperador foi exumado e submetido a tomografias e ressonâncias pela Universidade de São Paulo.
Notas:
[1] SOUSA, Otávio Tarquínio de. “A vida de Dom Pedro I (vol. 2)”. In: História dos fundadores do Império do Brasil. Tomo II. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2015. pp. 394-95