Meninas na ciência

23 de fevereiro, 2021

Meninas na ciência: jovem de São José dos Campos descobre asteroide

Quando olhamos para o futuro, fica claro que a educação é um dos investimentos mais estratégicos e efetivos para alcançar nossas metas de desenvolvimento político e sustentável. Segundo dados de uma pesquisa realizada pela ONU Mulheres e Unesco, entre os estudantes 74% das meninas têm interesse em Ciência, Tecnologia e Matemática, mas apenas 35% delas se inscrevem para cursos científicos de graduação nas universidades. Então o que falta para termos mais meninas na ciência?

Os números da pesquisa ainda apontam que somente 28% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres e calculam que, se 600 milhões de meninas e mulheres tivessem acesso às áreas de Ciência, Tecnologia e Inovação, 144 países em desenvolvimento aumentariam o PIB em US$ 8 trilhões.

Embora os obstáculos estejam presentes, alunas e ex-alunas da Emef Elizabete de Paula, no Jardim Mariana, de São José dos Campos (SP), têm se destacado na área científica de estudo. Em 7 de janeiro deste ano, Micaele Vitória Cavalcante, 17 anos, durante estudos para um projeto, observava as imagens do céu quando identificou um asteroide. Futuramente, a jovem poderá nomear sua descoberta.

No ano passado, Gabrielle Rocha dos Santos, 14 anos, concluiu o ensino fundamental na mesma escola municipal. Assim como Micaele, ela é apaixonada por Ciência, área na qual se destaca. Nos três últimos anos, a estudante conquistou diversas medalhas de ouro por suas participações na OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica).

Inspiração

São muitas as histórias inspiradoras de alunos e ex-alunos da rede de ensino pública. Meninas como Micaele e Gabrielle têm inspirado outras pessoas a se interessarem pela área e se prepararem para o futuro. Noemy Vitória Menezes de Almeida, 13 anos, é uma delas. Ela participou da OBA pela primeira vez em 2018 e ficou encantada. 

“Gosto de estudar sobre os planetas e ciências em geral, por isso adorei participar da Olimpíada. A escola me ajuda muito a ter disciplina nos estudos. Já estou me preparando para a edição deste ano”, conta Noemy.

A descoberta do asteroide

Micaele faz parte do grupo “Caça Asteroides”, ligado à Unesp (Universidade Estadual Paulista) e inscrito no programa IASC (International Astronomical Search Collaboration), coordenado pela Nasa. 

Após a descoberta da jovem, o asteroide terá as características e rota analisadas por astrônomos profissionais, o que pode levar até cinco anos. Concluído esse período, o estudo será catalogado pelo Minor Planet Center (Harvard) e então poderá ser batizado pela descobridora. Em seguida, a proposta deve ser levada ao órgão que oficializa a identificação, a União Astronômica Internacional.

“Participar do projeto ‘Caça Asteroide’ da Unesp foi uma experiência única na minha vida, um sonho que realizei. Sempre quis contribuir para a Ciência de alguma maneira, mas não esperava que fosse assim, tão rápido. Conheci pessoas legais no projeto, aprendi muito e desenvolvi o meu lado pessoal também”, diz.

“Cada conquista que tenho dedico a todas as meninas que também se esforçam, estudam e gostam de pesquisa e Ciência. Espero que outras também possam alcançar sonhos, acreditar que são capazes e fazer a diferença”, destaca a estudante.

Meninas na ciência

Além dos gostos em comum, Micaele e Gabrielle compartilham com Noemy as salas de aula e laboratórios da mesma escola municipal, no Jardim Mariana, região leste da cidade.

“Amo estudar Ciência, gosto muito da natureza. Saber como tudo funciona, como tudo é formado e organizado é algo que me encanta. A Olimpíada, além de tratar de assuntos encantadores, nos dá oportunidade de descobrir ainda mais sobre o mundo, as surpresas lindas do universo”, afirma Gabrielle, que atualmente cursa o 1º ano do ensino médio na EE Valmar Lourenço Santiago, no Campos de São José.

“Sempre há mais para se aprender com o nosso universo, que ainda guarda muitos mistérios e áreas inexploradas. Gosto de Ciências, de Astronomia e de Medicina, pretendo decidir meu futuro por uma dessas áreas”, afirma a jovem.

“O apoio e o carinho que toda a equipe pedagógica me deu em 2018 foram essenciais para formar o que sou hoje. A ‘Bete de Paula’ foi a escola que proporcionou meu primeiro contato com a Ciência e que, além de dar oportunidades, me apoiou. Guardo um carinho enorme pela escola que me mostrou que todo sonho é possível. Meu sentimento de gratidão é tão forte que espero poder retribuir o que foi feito por mim”, afirma Micaele.   

“A escola e a dedicação dos colegas e professores me incentivam muito. A Micaele e a Gabrielle são exemplos para mim, para continuar me dedicando aos estudos”, diz Noemy.

Projeto da Nasa

A proposta da Nasa é contar com a cooperação de cientistas e cidadãos do mundo inteiro para descobertas sobre o universo. Os achados do projeto “Caça Asteroides” vão contribuir para os estudos de astrônomos profissionais. As imagens foram captadas pelo telescópio do projeto Pan-STARRS1, localizado no alto de um vulcão inativo de cerca de 3.000 metros de altitude no Havaí.

Destaques na OBA

A edição 2020 da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, que aconteceu virtualmente, teve presença de destaque dos estudantes da rede de ensino municipal. Com 129 medalhas, alunos de São José conquistaram 43 de ouro, 30 de prata e 56 de bronze.

Entre os medalhistas, 24 alunos da rede municipal se classificaram para as pré-seletivas da Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica e para a Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica de 2021, porque alcançaram nota igual ou maior a 9 na prova da XXIII OBA de nível 3 para estudantes do último ano do Ensino Fundamental.

Podem participar da OBA alunos do primeiro ano do ensino fundamental até alunos do último ano do ensino médio. A competição tem como principal objetivo incentivar os alunos a estudarem disciplinas como Física, Matemática e Geografia, além de despertar o interesse dos jovens pela Ciência e Tecnologia ao abrir portas para o universo da Astronomia prática e teórica.