Dia do Enfermeiro

12 de maio, 2020

No Dia do Enfermeiro, rotina é marcada por dramas pessoais e profissionais durante a pandemia de Covid-19

Nesta terça-feira (12) é comemorado o Dia do Enfermeiro, a profissão do cuidado com o ser humano, principalmente em seus momentos de maior fragilidade. No ambiente hospitalar, são eles que estão lado a lado com os pacientes, mesmo quando nem mesmo os parentes mais próximos podem ajudar.

O cenário dos últimos meses, com o mundo todo lutando contra a pandemia do novo coronavírus, transformou esse profissional em um verdadeiro herói. Há o perigo de contágio de uma doença ainda sem cura, o drama familiar pelo distanciamento dos entes queridos e o estresse de lidar muitas vezes com hospitais em colapso.

Desde o início da pandemia, imagens de enfermeiros exaustos, com o rosto machucado pelo EPI (Equipamento de Proteção Individual), têm comovido pessoas ao redor do planeta. Também por isso o ato de aplaudir enfermeiros e outros profissionais de saúde se tornou uma demonstração rotineira do público, dando seu recado de “muito obrigado” durante o confinamento.

Desde que a pandemia chegou ao país, em março, a vida do casal Júlio Guilherme Batista e Emanuelle Remígio Gomes Batista mudou completamente. Os dois são enfermeiros e atuam na linha de frente no combate à Covid-19. Pais do pequeno Guilherme, de 4 anos, eles tiveram que se afastar do filho desde então.

Dia do Enfermeiro:  Emanuelle Remígio Gomes Batista e Júlio Guilherme Batista
Os enfermeiros Emanuelle Remígio Gomes Batista e Júlio Guilherme Batista, com o filho, Guilherme, de 4 anos

“Eu trabalho em São Paulo e minha esposa, em Jacareí. Deixamos nosso filho na casa dos avós maternos e, como eles são grupo de risco, nós não podemos entrar em contato nem com os dois, nem com o Guilherme. Isso toca muito a gente, nos deixa emocionalmente abalados. A gente se acostuma a chegar em casa e abraçar nosso filho, né? E agora, só nos vemos por videochamada”, afirma.

Para deixar mantimentos e roupas para o pequeno na casa dos avós, por exemplo, Júlio precisa fazer tudo escondido, para que o filho não o veja por perto e comece a chorar. O isolamento dos parentes é, inclusive, o que mais tem chocado o enfermeiro em sua prática diária no hospital. De acordo com ele, que soma mais de 20 anos de profissão, o maior drama desta pandemia é o familiar.

“São várias histórias que nos deixam comovidos no enfrentamento ao coronavírus. Primeiro é você ver seus companheiros de trabalho de uma hora para outra infectados – e alguns em estado grave. E o pior de tudo é o distanciamento familiar. Muitas vezes recebemos um paciente que vem a óbito dias depois sem poder se despedir dos parentes, isso é uma constante. Deixa a gente muito chateado”, diz.

Orgulho e gratidão

Apesar de conviver tanto com seu próprio drama pessoal quanto com o de pacientes com a Covid-19, o sentimento do enfermeiro é de muito orgulho pelo trabalho humanitário desempenhado durante a pandemia. 

Ele afirma que apesar das histórias tristes, há também aquelas que enchem o coração de esperança, com casos incríveis de recuperação, seguidos de uma enorme gratidão dos pacientes com a equipe de enfermagem.

“Para mim, é motivo de orgulho saber que nossa classe está ajudando as pessoas a se recuperarem neste momento tão complicado. Na minha opinião, o aprendizado que fica é esse sentimento de gratidão. É importante que a sociedade seja mais agradecida: ao médico, ao enfermeiro, ao motorista que o levou de ambulância, aos jornalistas que têm se esforçado para levar informações às pessoas”, diz.

O novo normal

A enfermeira Karina Zanetti, de São José dos Campos, atua na área preventiva. Mas isso não significa que ela esteja imune às mudanças e carga de estresse gerados pela pandemia. Na empresa onde trabalha, sua função é ajudar a manter os funcionários protegidos da doença e criar um ambiente de prevenção.

Dia do Enfermeiro: Karina Zanetti
A enfermeira Karina Zanetti, de São José dos Campos

“O momento é muito complicado devido também à velocidade com que as informações sobre protocolos de proteção são atualizadas. As equipes trabalham incansavelmente para se adequar à mudanças. É um trabalho árduo, cansativo e que requer uma enorme energia desses profissionais”, afirma.

De acordo com Karina, o holofote que a pandemia coloca sobre o trabalho dos profissionais de saúde expõe também antigas reivindicações da categoria. 

“A gente vê profissionais com dois ou três empregos para sobreviver, pois em muitos hospitais a política de salários ainda não é condizente com a importância do trabalho realizado. Espero que essa realidade mude após a pandemia”, conclui.