EJA

11 de setembro, 2019

O ABC da superação: como a alfabetização de adultos ajuda a mudar vidas

Setembro é o mês internacional da alfabetização. Uma oportunidade para nos lembrar que, em pleno 2019, o analfabetismo ainda é uma ferida aberta em nosso país. Afinal, entre a população com mais de 15 anos, nada menos do que 11,3 milhões não sabem ler nem escrever. O número representa 6,8% dessa população.

Os dados colocam o país na incômoda 8ª colocação em um ranking mundial do analfabetismo entre os adultos. Em números absolutos, os únicos países com índices de alfabetização piores que o Brasil são China, Índia, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia e Egito. 

O analfabetismo de jovens e adultos atinge, em sua maioria, a camada mais pobre, principalmente nas zonas rurais do país. São casos de pessoas que tiveram de largar a escola muito cedo ou que nem a frequentaram para lidar com o trabalho ainda crianças.

Esse é o caso de Lieci Sarapiano de Jesus, 52 anos, morador do Jardim Satélite, em São José dos Campos. Nascido na zona rural de Teófilo Otoni (MG), Sampaio perdeu os pais e os avós na infância. Sem frequentar a escola, trabalhou desde cedo na roça para conseguir sustento.

Lieci Sarapiano de Jesus

O aluno do EJA Lieci Sarapiano de Jesus

Já adulto, começou a atuar na construção civil. Veio para São José dos Campos em 2001 e, após três anos, acabou morando nas ruas. Situação em que ficou por mais de 10 anos. Este ano, ele se inscreveu no Programa de Ensino de Jovens e Adultos (EJA), da Prefeitura de São José dos Campos.

“Sempre quis voltar a estudar, mas não tive oportunidade. Depois que perdi meus familiares, fui muito sozinho na vida. E ia de um bico para o outro, sempre fazendo uma coisinha aqui, outra ali, para garantir meu sustento. Depois de alguns meses, já me sinto muito mais independente para fazer minhas coisas, porque a leitura tem me ajudado muito”, diz.

Assim que começou as aulas, Jesus não precisou mais de ajuda para ler os letreiros dos ônibus, placas de orientação ou mensagens que recebe no celular.  Tais conquistas vieram acompanhadas de outra: a confiança para aceitar novos desafios.

“Hoje eu converso mais, sou uma pessoa muito mais aberta. Na minha vida toda fui acanhado, com bastante vergonha por não ter tido estudo. Essa é uma das principais coisas que mudaram na minha vida”, afirma.

Volta ao mundo

A história do aposentado Osmar Simplício, 66 anos, é muito parecida. Natural de Pernambuco, ele veio, ainda jovem, buscar a vida na capital paulista. Extrovertido e comunicativo, logo dominou o ofício de pedreiro. A partir dali, foi se qualificando, tornando-se especialista em obras ferroviárias.

Osmar Simplício

Osmar Simplício viajou o mundo, mas só agora conheceu a sala de aula

A especialização levou Simplício a diferentes lugares do mundo. Os destinos passaram por Oriente Médio, Europa e África. Na vida de trabalhos e viagens, entretanto, ficou faltando um lugar especial: a sala de aula.

“Nunca tinha pisado numa sala de aula antes. Minha esposa sempre quis muito que eu estudasse. Por causa dela, me dediquei aos estudos e me alfabetizei. Infelizmente, ela faleceu nesse processo. Agora, minha meta é me formar, já que essa seria a vontade dela”, diz Simplício.

‘Daria um livro’

Coordenadora da EJA em São José dos Campos, a educadora Ana Claudia Souza Santos afirma que são muitas as histórias inspiradoras dentro das salas. São pessoas que se esforçam não só para aprender o alfabeto, mas também para resgatar o orgulho e a autoestima.

“Se a gente for contar todas as histórias aqui, daria um ótimo livro. São histórias de pessoas que vencem seus medos, se desafiam e se ajudam. É um trabalho emocionante”, afirma Ana.

E os desafios são grandes. Ela diz que a educação de jovens e adultos enfrenta um grande índice de evasão escolar. Para combater isso, o time de professoras se esforça para criar aulas atrativas, que explorem o conhecimento prévio dos alunos.

“A gente parte do que eles já conhecem para criar uma base de aprendizado. Estamos sempre confrontando a evasão escolar, já que muitos deles, ao conseguirem um emprego, precisam deixar a escola”, conclui.